sábado, março 21, 2009

Doce sabor a sal...

(À laia de prenda atrasada)
Para o meu Pai, que me deu o amor pelo mar

Tinha-se deitado na amurada. Gostava de ficar assim naquele "chão" móvel, como se fizesse parte dele, como se os movimentos do barco fossem os seus. Ali, o mar ficava mais perto, algumas gotas saltando do meio das outras para lhe virem beijar a cara.

Gostava de olhar para o mar e admirar os reflexos na água e como as suas cores mudavam com o vai-vem das ondas. Gostava de perder o olhar no infinito e imaginar o que apareceria ao virar do horizonte. Gostava de sentir a brisa sacudir-lhe os cabelos e cantar-lhe aos ouvidos. Gostava de brincar com as ondas, o barco subindo e descendo em movimentos subtis, acompanhando o movimento das águas, numa cavalgada que era mais um conjugar de movimentos que uma fuga à ondulação. Gostava quando as ondas eram corajosas o suficiente para rebentarem no convés e se espalharem em milhões de gotas. Gostava quando as gotas lhe salpicavam a cara, trazendo o cheiro do mar e o doce sabor do sal...

Gostava quando abria os braços no pico de uma onda e esta lhe trazia a promessa de um vôo.

Gostava de mergulhar e sentir aquele abraço frio, sentir a água preencher cada poro, nadar deixando a água tornar a fazer parte de si.

Gostava de adormecer com o embalar gentil das ondas e a canção dos murmúrios da água, como se aquela música saísse do seu próprio coração.

Boa noite, hoje durmo com as ondas...